sexta-feira, 15 de outubro de 2010

O Reencontro

Ela iria me falar tudo o que aconteceu, fiquei sentado após tomarmos café e comermos bolinho de chuva que ela mesmo havia me trazido, minha coluna doía não conseguiria ficar em pé.
Ela me observava, as rugas, os meus óculos enormes e o meu chapéu, ela sempre reparava no chapéu que eu usava e na gravata.
A primeira conversa que tivemos á uns 47 anos atrás, foi sobre a cor da minha gravata e da música que eu ouvia, e que ela ouvia quando ficava próxima á janela.
Éramos vizinhos, me mudei, nos encontramos e lá estava ela depois de tantos anos para me explicar.
Ficou parada á um tempo na porta após o café, abria a boca e fechava, queria dizer algo mas suponho que ela estava tímida.
Até que sorriu e me disse;- Sabe, se você acreditar ou não, quanto á esta escuridão que você reclamou tanto, eu corri dela. Porque na verdade antes disso tudo nascer, antes de você ver essa miragem, antes disto te alcançar, já havia acontecido comigo, então por que acha que eu iria fazer isso com você? Óbvio! Jamais sustentaria um amor que não desse para responder, mesmo que tivesse a resposta mais sincera em meu coração, mesmo que fosse extremamente verdade todas suas miragens, acordaria um dia. E de repente tudo uma mentira! 
Ah, querido! A realidade é mais forte que nossos sonhos, é mais forte, é a realidade e ponto final.
Espero que um dia compreenda, embora jamais terá respostas para tudo que lhe fez surgir pois algo naquilo tudo era verdadeiro. Ou é verdade, ou é mentira, não é mesmo?
Não posso inventar algo para sumir com tudo porque um pouco de tudo era verdade, porem querido... muita filosofia não explicaria mas como disse. Acontece que era. E se ERA nunca existiu - disse ela.


Fiquei olhando para ela admirando, depois de tantos anos cheia de certezas e incertezas, tantas rugas e manchas de velhice nas mãos, vestido que ainda assim lhe caía bem, cabelo branco e preso, batom vermelho e um chapéu e ela parada tentando ver se pela minha expressão eu entendia tudo do que ela dizia.
E voltou a dizer;
- Pensamos em como é ruim depois que você acorda depois que alguém acorda você. Até você acostumar que tudo foi um sonho uma miragem, dói e eu sei disso. E são esses os sonhos que eu lhe disse o que chamamos de amor e depois de ilusão, decepção e assim cada vez pior. Até que, em uma época você vai rir disso, eu também não entendo por que algumas coisas o destino nos permite, não entendo por que temos rir sozinhos de toda uma ilusão ou ficar extremamente sem saída quando tudo vem á cabeça.
Pronto é só o que tenho a dizer.


- Sim? Disse.

- Vamos ainda tenho que comprar pedrinhas para o jardim, quero deixar tudo pronto para ver Margot no teatro. Oh! Desculpe-me! Eu vou, você fica e Adeus querido, Adeus... Digamos esta tudo explicado, certo?
Como já disse tenho que sair e ir para casa, foi um prazer revê-lo e ainda bem que antes de falecer deu tempo de te encontrar depois de tantos anos, nunca me esqueci de você nunca, me sentia mal por ter falado de mais e fazer nós sonharmos de mais.
Bom, adeus novamente.

Ela disse já abrindo a porta com medo que eu falasse alguma coisa que envolvesse mais aquele assunto.

Sentia que meu coração iria pular pela boca mesmo após de tantos anos aquela visita me fazia me sentir jovem, e ter todas aquelas expectativas não queria que ela me explicasse mais nada, só que ela ficasse mais alguns segundos, então com medo de ouvir mais um adeus, disse:

- Sim, mas não me diga Adeus ainda, venha me visitar novamente, tenho tanto pra falar, digo... quando fui pego pelos militares, quando te encontrei novamente tocando violão na beira da estrada vendendo artesanato, lembro de você com as crianças, tem tanta coisas para te falar, éramos amigos, sempre fomos, certos?

Falei tudo tão rápido que tive dificuldade de respirar.

Novamente ela sorriu e disse:
- Sim, voltarei, você me ficou devendo uma dança e um sorvete ao parque, lembra?

Assustado olhei para ela mas com admiração, ela também se lembrava daquele dia e do que 
conversávamos.


Ela me disse antes de eu dizer algo:
- Calma querido, não precisa me levar á um parque de diversão não tenho mais 16 anos e sorriu.
Então sem dizer nada me levantei com muito esforço e liguei a vitrola que ainda velha funcionava, coloquei um disco, não tinha visto de quem era, ela me aguardava na porta me aproximei e com passos curtos e lentos ela veio caminhando até a mim.

Sorrimos e dançamos bem devagar de mãos dadas.

Então ele disse:
- Oh!Querido, Edith?
Eu disse á ela:
- Sim.Ela me disse segurando ás lagrimas:
- Como esta música...
Disse á ela:
- Sim, triste e único para sempre.

Ela encostou sua cabeça em meu ombro e continuamos a dançar lentamente amavelmente depois de tantos anos.Sabia que eu nunca havia se esquecido dela mas não sabia que ela pensava o mesmo.
"Vou sonhar a vida inteira, a vida inteira ..."

terça-feira, 28 de setembro de 2010

♥ Hino ao Amor

Se o azul do céu escurecer
E a alegria na terra fenecer
Não importa, querido
Viverei do nosso amor

Se tu és o sonho dos dias meus
Se os meus beijos sempre foram teus
Não importa, querido
O amargor das dores desta vida

Um punhado de estrelas no infinito irei buscar
E a teus pés esparramar
Não importa os amigos, risos, crenças de castigos
Quero apenas te adorar

Se o destino então nos separar
Se distante a morte te encontrar
Não importa, querido
Porque morrerei também

Quando enfim a vida terminar
E dos sonhos nada mais restar
Num milagre supremo
Deus fará no céu te encontrar