quinta-feira, 24 de março de 2011

"Ela fruíra tão longamente e tão freqüentemente a sua companhia, haviam experimentado juntos, durante tanto tempo, emoções tão diversas, que o seu coração guardara dele uma impressão indelével. Habituara-se a partilhar com ele todos os sentimentos, todos os pensamentos, e a sua partida pareceu abrir em toda a sua existencia um vazio que ninguém podia preencher. Oh! como seria ela feliz se pudesse transformá-lo num irmão! ... ou casá-lo com uma das suas amigas! ou, ainda, se pudesse restabelecer entre ele e Alberto, inteiramente, as relações de outrora!
Carlota passava todas as amigas em revista, uma por uma, e encontrava em todas qualquer coisa a censurar; a nenhuma te-lo-ia cedido voluntàriamente.
Fazendo essas reflexões, pela primeira vez ela sentia profundamente, embora sem fixar-se de um modo preciso, que o secreto desejo do seu coração era guardá-lo para ela. Entretanto, estava convencida de que não podia guardá-lo, que isso lhe era proibido, e sua bela alma, tão pura, outrora tão livre de cuidados e tão pronta a superá-los, sentia-se acabrunhada por essa triste--a que se experimenta quando não se tem mais nenhuma perspectiva de felicidade. Seu coração comprimisse, uma sombria nuvem toldava seu olhar."


- O sofrimento do jovem werther - Goethe

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